segunda-feira, 1 de março de 2010

Da revista Caros Amigos

01/03/2010


Kassab investe contra bancas de jornal de São Paulo Proposta da prefeitura quer retirar alguns pontos de venda com o argumento de que seriam esconderijos de bandidos e pontos cegos nas câmeras da polícia.
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, elegeu o mais novo inimigo da segurança pública: as bancas de jornal. Parece até brincadeira, mas por conta da decisão da prefeitura de remover algumas bancas da cidade, muitas pessoas correm o risco de ficar desempregadas. A polêmica começou há cerca de 90 dias, quando 85 bancas de jornal do centro de São Paulo receberam uma intimação informando que os estabelecimentos teriam 30 dias para se retirar dos locais onde se encontram. Como justificativa para o possível despejo, a notificação trazia apenas uma palavra: segurança.
O jornaleiro Deusdet José Magalhães, proprietário de uma banca na Avenida Rio Branco desde 1979 foi um dos afetados pela medida. Ele afirma que recebeu uma carta da prefeitura no final de novembro, onde era informado que deveria escolher três possíveis novos pontos para sediar sua banca, e a prefeitura analisaria a viabilidade de algum dos locais.
O que a prefeitura não explicitou, no entanto, foram os critérios que o jornaleiro deveria utilizar para escolher a nova localidade de sua banca. “Eu acho que a prefeitura não vai aprovar nenhum dos pontos que eu sugerir”, desconfia Deusdet.
“Ponto cego”
Confusos e preocupados, os jornaleiros procuraram seu sindicato, que tentou entrar em contato com os responsáveis pelas intimações, sem sucesso. A prefeitura, por meio do Secretário das Subprefeituras de São Paulo, Ronaldo Camargo, disse apenas que em alguns casos as bancas de jornal causavam “pontos cegos” às câmeras da polícia militar. Outras descobertas foram feitas a partir de notas enviadas à imprensa pelo mesmo secretário. O sindicato ficou sabendo que a prefeitura preferia que as bancas procurassem espaços privados para se realocarem, como shoppings. Assim, futuramente todas as bancas teriam que estar encostadas em muros, além de terem suas aberturas voltadas para a rua, e não para o interior da calçada.
Para o sindicato, seria difícil achar lugar para reposicionar todas as bancas de jornal, já que a fachada da maioria das ruas de São Paulo é composta por portas e vitrines, não por muros. Há, ainda o caso das bancas localizadas em praças. O jornaleiro Edilson Barante, que possui uma banca na avenida Sapopemba há 18 anos ironiza a situação: “Esta medida está completamente fora da realidade, parece que o Kassab nunca foi em uma banca de jornal”.
Esconderijo para bandidos
A prefeitura ainda afirmou que as bancas, quando localizadas em frente a faixas de pedestres ou agências bancárias serviriam de esconderijos para bandidos, que se abrigariam atrás delas até que o farol fechasse ou chegasse o carro com dinheiro.
A informação gerou polêmica, conforme explica a jornaleira Agnailda Moreira, que possui uma banca na Vila Mariana há quatro anos: “Bandido pode se esconder também atrás de carros e telhados, a prefeitura vai tirar tudo isso?”. Deusdet também opina sobre o assunto, e diz que ao contrário do que afirma a prefeitura, as bancas de jornal ajudam a segurança: “Muitas pessoas já entraram na minha banca porque estavam sendo seguidas por bandidos. Eu mesmo já entrei em bancas para fugir de situações como esta”, relata.
Outra informação deixou o quadro ainda mais intrigante: em uma reportagem sobre o assunto, o jornal Agora entrevistou a polícia militar, que declarou que as bancas não formam pontos cegos, e que não partiu dela a iniciativa de deslocar estes estabelecimentos.
ManifestaçãoPara protestar contra a falta de informação apresentada pela prefeitura, o sindicato dos jornaleiros de São Paulo, organizou um ato no dia 23. Cerca de 300 profissionais da área compareceram à manifestação, que se iniciou em frente à Câmara Municipal e seguiu direção ao Gabinete do prefeito, onde requereriam uma reunião para discutir a situação das bancas. No dia seguinte, o sindicato conseguiu uma reunião com o Secretário Ronaldo Camargo. O resultado deste encontro, no entanto, foi alarmante. Segundo Ricardo Carmo, presidente do sindicato, Camargo afirmou que a medida irá se estender a outras áreas de São Paulo, e que em breve novas bancas de jornal irão receber notificações para mudar de localidade.
Sobre a questão da segurança, o Secretário insistiu na versão do ponto cego, mesmo estando provado que o argumento não tem fundamento. Ele ainda afirmou que foi feito um laudo que prova o perigo da localização de algumas bancas. No entanto, este documento não foi liberado aos membros do sindicato.
Novos locaisA única resolução tirada durante a reunião foi a de que os novos lugares serão escolhidos mediante uma reunião entre o sindicato e o subprefeito de cada região, medida que, segundo Ricardo, não garante que todas as bancas terão lugar na cidade.
Por enquanto não há mais informações sobre os motivos que levariam a prefeitura a mover as bancas, mas o sindicato acredita que existem outros interesses por trás da medida “ainda não acreditamos nessa falta de segurança” acrescenta Ricardo. Em nota enviada à reportagem da Caros Amigos, a assessoria do Secretário Ronaldo Camargo afirmou que “não é objetivo da pasta acabar com os Termos de Permissão de Uso para bancas de jornal”, mas não deu maiores detalhes. O sindicato dos jornaleiros está fazendo um abaixo-assinado contra a ação da prefeitura. O documento está disponível em diversas bancas de jornal de São Paulo.

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